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Zé!! que estás a fazer?
Perguntou com voz áspera e dura o senhor Francisco, Auxiliar educativo da Escola E2 B5 SO4, homem sério e zeloso das suas funções.
Zé, também conhecido pelas alcunhas de Pequena Doninha e Pravda, continuou de cócoras, junto ao pneu traseiro do BMW 525 TDS do Professor de Matemática Técnica, com um prego na mão, olhou o senhor Francisco e disse: Nada, não estou a fazer nada.
O senhor Francisco, vermelho de ira e de vergonha disse: NADA? Mas eu estou a ver o menino a esvaziar os pneus do carro do seu Professor de Matemática.
Zé, impávido retorquiu: qual carro? Não estou a ver aqui nenhum carro e mais, não conheço nenhum Professor de Matemática.
Furibundo o senhor Francisco, agarrou o Zé pelo braço e disse: Zé, o menino é um descarado, vamos agora mesmo falar com o senhor Director.
A resposta do Zé foi pronta, clara e com ar de desafio: vá, vamos lá sim senhor, vá vamos.
Tal firmeza de Zé apontava claramente o seu futuro. Iria ser dirigente partidário de um qualquer partido político.
Enquanto caminhavam para o Gabinete do Director, o senhor Francisco, que acreditava piamente no episódio da Passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão, pensava: este rapaz é capaz de dizer que a Blimunda não atravessou os céus de Lisboa.
Absorvidos nos seus pensamentos percorreram rapidamente o trajecto até ao Gabinete do Director e, o Zé ao chegar, disparou prontamente numa jogada de antecipação, mais rápida que o central do Inter: Senhor Director aqui o senhor Francisco, quando eu estava a abotoar o cordão do sapato, abordou-me de forma agressiva e caluniosa, coisa que não posso permitir.
Mas, mas, senhor Director balbuciou o senhor Francisco eu é que …o Zé não o deixou terminar, num drible de fazer inveja a um qualquer Ronaldo atirou: Senhor Director ainda há mais, o senhor Francisco ofendeu-me na minha dignidade e integridade e ofendeu ainda o meu tio Afonso...
O Director que boquiaberto olhava o Zé e o senhor Francisco, interrompeu, levantou-se e olhou o Zé do alto dos cabelos aos bicos dos sapatos e, aí, parou e “saltou-lhe a tampa” atavas os atacadores dos sapatos? Zé os teus sapatos são de pala! Não têm atacadores!
Zé prontamente explicou: senhor Director com o devido respeito, são de pala agora, porque aqui o senhor Francisco atirou os outros meus sapatos para o telhado da Escola e eu tive de ir ali ao chinês da esquina comprar estes que agora tenho calçados.
O senhor Francisco já estava á beira de um ataque de nervos e tentou intervir, mas o Director não permitiu e deu prontamente a ordem: Zé! Rua do meu Gabinete, eu e o senhor Francisco temos de falar.
Mal o Zezínho saiu, o senhor Francisco ainda atordoado com a argúcia do rapaz dizia: o senhor Director não estava a acreditar nele pois não?
Claro que não senhor Francisco, acenou o Director e, adiantou enquanto coçava o queixo, este rapaz vai longe, tem o perfil ideal para chegar a Presidente de qualquer Governo…

Foto e texto de Silvestre Raposo