segunda-feira, março 19, 2007

Alma livre...

Alma livre...

...sou a alma livre
do deserto,
que pertence a todos
e a ninguém
se entrega.

...sou o Arábico Andaluz
no meio da cidade,
neste oásis de multidão,
despojado do seu deserto,
perdido no seu coração.

...sou a vida, sou a morte,
...sou a tristeza e a alegria,
procurando o meu deserto
neste oásis
que não queria...

...serei feliz,
serei luz, energia...
...quando esse deserto
encontrar um dia.

Foto (Mesquita de Almonaster) e Poema (in Caminhos de terra e mar) de Silvestre Raposo

quarta-feira, março 14, 2007

A trovoada começa a levantar...mas continua a chover

Cidade
…Joga a bola para aqui, joga, joga, dizia a criança de calças rotas,
com os dedos dos pés a espreitar pela “janela” dos velhos ténis,
ali mesmo a dois passos do centro “yupee” da Cidade. Sim,
porque apenas dois passos separam o inumano viver, do faustoso aparente.
…E a bola de borracha gasta e rota, arrastou-se por entre lama e excrementos,
enquanto o turista de máquina em punho, perpetuava o registo dos momentos,
entre o esboçar de um sorriso de estranheza e o olhar incrédulo de um recomeço de caminho desastrado, pisando dejectos que ali não deviam estar,
olhando o sapato, esfregando-o e tornando a esfregar.
Ah Cidade, Cidade, onde o figurativo “piroso” em versão reproduzida, se vende
como se de arte se tratasse.
Cidade da tristeza
dos arrogantes inergumenos,
que por carências mentais, com dificuldade terminaram o ensino oficial
e se arrogam do direito de opinar sobre qualquer assunto ou tema,
como se de especialistas se tratassem.
Cidade da vaidade desmesurada,
onde o parecer,
vale mais do que o ser…
….e é o fato e a gravata e o sapato fino e as calças de marca,
o blusão a condizer e de marca também,
porque o vizinho também tem…
…ou, não vá a vizinha criticar
ou pensar,
que seja provável, que não se tenha o dinheiro,
que afinal se não tem…
…Não podemos ficar atrás,
vamos trocar de carro, este já não agrada
e temos de comprar fato novo para as Festas
e para mim um vestido, uns sapatos, uma mala…
…Por favor vê se o empréstimo ainda dá para um fio de ouro, uma pulseira, ou pelo menos um anel…
…não posso sair assim, que iriam dizer ou pensar as minhas amigas?
…Aí… hoje tive um dia tão cansativo,
corri quatro pastelarias,
não há nada chique onde se possa ir…… olha, tu, vê lá se mudas aí o canal da televisão, quero ver a novela, só bola, só bola, nem uma pessoa pode ver nada… “Joquenito pára queto

Foto e texto de Silvestre Raposo

terça-feira, março 13, 2007

Trovoada...

Não gostaria que todos gostassem de mim...nem me importa que muitos não gostem...o triste, é alguns tentarem tapar, esconder, ocultar o que se faz, para que a sua diminuta grandeza possa sobreviver... para esses, este poema de agradecimento, pelo silêncio, pois aos amigos que me apoiam, divulgam e ajudam já agradeci ....

Ao morrer

Não sei de quê
nem quando,
mas um dia destes
vou morrer.

Vão vestir-me
um fato,
pôr-me uma gravata…
...que tenho de ir
“apresentável”…

Não haverá missa
nem Padre
para me “encomendar”…

…e os “palhaços”
que de inveja
o meu trabalho
tentam silenciar,
irão finalmente
descansar…

…e talvez?
ou não?
dizer bem de mim
irão.

Foto e Poema de Silvestre Raposo